Tudo o que consegui sentir aquela noite foi medo. Não sei o porque e nem como, mas medo foi tudo que me veio. Tudo o que conseguiu sair de mim foram gritos e lágrimas em vão. Ninguém ouviu, ninguém viu o travesseiro molhado. Tudo que eu precisava era força e não o medo, mas ele tomou conta de mim, derrotou a força e tomou conta do meu corpo, dos meus pensamentos. E o pior foi que ele ainda não deixou meu corpo. Fiquei em choque a noite toda e de manhã, longe de todos os olhares e de todas as pessoas, tranquei a porta do meu banheiro e liguei o chuveiro. Deixei a água correr meu corpo como se tentasse lavar a alma, como se fosse apagar tudo o que havia em minha mente. Mas nada foi embora. Cada vez que eu fechava os olhos voltava tudo à tona e cenas se repetiam na minha mente. Chorei como nunca chorei em minha vida naquele momento, mas dessa vez nem as lágrimas lavaram a minha alma. Eu tinha em mim um segredo horrível que não queria guardar, queria contar pra alguém na tentativa de que se eu o compartilhasse, ele deixaria minha mente e eu nunca mais lembraria dele. Mas o medo novamente tomou conta de mim. O que diriam as pessoas se soubessem? E os olhares de pena de uns e reprovação dos outros? Ao deixar as palavras saírem e as memórias voltarem, comecei a tremer e meu coração veio à boca. Será que um dia isso vai passar? Será que vou conseguir esquecer isso? Não tenho mais sono, não tenho mais fome e nem vontade de sair de casa e nem de ver ninguém. Vivendo em um pesadelo. Só chove e eu quero acordar. Não quero mais nenhum dia nublado. Quero sorrir...
Nem sei quanto tempo fiquei lá. Até hoje, não sei nem dizer se esse tempo todo passei dormindo ou sonhando acordada. Tudo acontecia lentamente e eu ainda não sabia dizer se era real. Meus movimentos milimetricamente projetados, robóticos, repetitivos me levavam a lugar nenhum. Meus pensamentos estavam lá, mas nada parecia tomar forma ou muito menos fazer sentido, aqui fora. Aquela sensação de que eu estava me vendo dormir, fora do meu corpo, me acompanhava 24 horas por dia. Eu não sentia nada, não fazia nada. Eu só estava ali, inerte, habitando um corpo vivo sem vida.
Comentários
Postar um comentário