Seus olhos grandes me fitavam e seu sorriso bobo, meio paralisado, me prendia. Parecia olhar para uma criatura de outro mundo. E eu me sentia assim também. Embora ali do meu lado, ele parecia estar em outro planeta. Seus olhos estavam com a atenção total em mim, mas a sua mente não. E não havia nada que eu pudesse fazer. Porque por mais que eu quisesse, por mais que tentasse, não podia trazê-lo. Ele não iria sobreviver na mesma atmosfera que eu. Era surreal. Embora tão parecidos, ele vinha de outro planeta, tão diferente de mim. Ele tinha seu próprio mundo, do lado do meu, e às vezes me abandonava nessa fronteira. E eu não conseguia entender o por que, mas eu não podia trazer ele para o meu mundo.
Nem sei quanto tempo fiquei lá. Até hoje, não sei nem dizer se esse tempo todo passei dormindo ou sonhando acordada. Tudo acontecia lentamente e eu ainda não sabia dizer se era real. Meus movimentos milimetricamente projetados, robóticos, repetitivos me levavam a lugar nenhum. Meus pensamentos estavam lá, mas nada parecia tomar forma ou muito menos fazer sentido, aqui fora. Aquela sensação de que eu estava me vendo dormir, fora do meu corpo, me acompanhava 24 horas por dia. Eu não sentia nada, não fazia nada. Eu só estava ali, inerte, habitando um corpo vivo sem vida.
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