E lá fora chovia. Todos aqueles belos dias de céu azul foram substituídos pela negras nuvens que choram suas lágrimas geladas em cima de todos. E aqui dentro, chovia. Das mais quentes gotas de oceano, salgadas e tristes. O mundo andava triste. Fechei janelas e portas, não deixei mais nada entrar e nem sair. A escuridão que fazia lá fora não me era suficiente, então fechei as cortinas também. Iria viver de poesia, água e dor. Era tudo o que eu precisava naquele momento. Então me lembrei que havia um motivo pra lá fora não ser escuro o suficiente pra mim... Porque por trás das nuvens, o sol ainda brilhava, todos os dias. Então fechei os olhos e abri as cortinas, senti a claridade batendo em mim. Quando senti coragem, escancarei as janelas e senti a brisa, o cheiro de terra molhada, ao acordei do meu transe, vi lá fora o dia mais bonito de todos. E aqui dentro também.
Nem sei quanto tempo fiquei lá. Até hoje, não sei nem dizer se esse tempo todo passei dormindo ou sonhando acordada. Tudo acontecia lentamente e eu ainda não sabia dizer se era real. Meus movimentos milimetricamente projetados, robóticos, repetitivos me levavam a lugar nenhum. Meus pensamentos estavam lá, mas nada parecia tomar forma ou muito menos fazer sentido, aqui fora. Aquela sensação de que eu estava me vendo dormir, fora do meu corpo, me acompanhava 24 horas por dia. Eu não sentia nada, não fazia nada. Eu só estava ali, inerte, habitando um corpo vivo sem vida.
Comentários
Postar um comentário