Durante longos dias eu evitei escrever, tentei manter todos os sentimentos e toda a dor dentro de mim. Mas não havia apenas isso, haviam as vozes também. E elas se alimentavam de tudo aquilo que eu mantive por dentro essas semanas, cada vez mais fortes, eu as escutava em alto e bom tom. Elas me pediam mais, muito mais. Eu havia alimentado as feras e se as deixasse com fome, elas me comeriam viva. E então eu me machuco, tiro cada pedaço de mim para dar à elas. Eu criava mais tristeza apenas para servir de alimento para as feras, e estava transformando elas em minhas amigas, me tornando também em uma delas e me alimentando daqueles sentimentos ruins. Então decidi caminhar sozinha, e deixar aquelas feras morrerem de fome dentro de mim. Apenas eu poderia me alimentar da minha tristeza, embora eu também quisesse morrer de fome. Eu queria me alimentar apenas do sol, sem expectativas e sem caídas. Quero ficar com os pés no chão, na minha loucura. Às vezes, eu questiono minha sanidade. Ocasionalmente, ela me responde.
Nem sei quanto tempo fiquei lá. Até hoje, não sei nem dizer se esse tempo todo passei dormindo ou sonhando acordada. Tudo acontecia lentamente e eu ainda não sabia dizer se era real. Meus movimentos milimetricamente projetados, robóticos, repetitivos me levavam a lugar nenhum. Meus pensamentos estavam lá, mas nada parecia tomar forma ou muito menos fazer sentido, aqui fora. Aquela sensação de que eu estava me vendo dormir, fora do meu corpo, me acompanhava 24 horas por dia. Eu não sentia nada, não fazia nada. Eu só estava ali, inerte, habitando um corpo vivo sem vida.
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