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Redenção

Virei a chave calmamente para entrar em casa como fazia todas as noites, a casa estava silenciosa e escura, como sempre. Ao acender a luz, deparei com um par de olhos me encarando, apontando uma arma pra mim bem em minha cabeça. O frio do cano e a sua pressão fazia um turbilhão de pensamentos explodirem por minha mente, quase como se a bala já tivesse me atravessado. Meus miolos estavam mais embolados do que nunca, mas estavam ainda dentro de mim. Nem prestava mais atenção em nada à minha volta, só conseguia pensar na minha vida, naquela velha história de que quando estamos perto da morte, um filme de nosso passado que corre diante dos nossos olhos. E pensava como cheguei ali, aos 21 anos e me perguntava até o que havia acontecido com aquela garota risonha e despreocupada que eu era anos atrás, com menos problemas e preocupações, com as pernas mais machucadas do que o coração, afinal, cair no chão era melhor do que cair em paixão. Pensei em como eu podia ter evitado tanta coisa, como poderia ter feito as coisas melhores e mais cedo, ao invés de ter perdido tempo em coisas que não me trouxeram nada. Mas percebi que se eu sobrevivesse àquele momento deveria pegar cada aprendizado que os momentos ruins me trouxeram e fazer melhor, que não importava o que me levou à aquilo, mas como eu lidaria, como eu enfrentaria. Sem me importar com o cano em minha mente, eu sorri. E ri levemente. Eu estava exatamente onde deveria estar e sabia que estava caminhando exatamente para onde deveria ir, que meu caminho não importava muito. Escutei um clique da arma e me senti como se estivesse acordando de um transe. Tomei coragem e olhei para frente, decidida a encarar quem quer que fosse que agora tinha o poder de decidir minha vida toda em segundos, e tudo o que vi foi o espelho. Eu arregalei os olhos, e ela também. Eu piscava e ela piscava. E me encarava com os mesmo olhos redondos cor de mel, os cabelos loiros refletiam da mesma forma que o meu. Eu estava olhando no espelho a única pessoa que poderia decidir o rumo da minha vida inteira, minha maior inimiga e ao mesmo tempo minha melhor amiga: eu. A arma foi abaixada, a pressão do cano sumiu, foi declarada a paz aqui dentro. Por enquanto.

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