Acabou. E ao ouvir tais palavras, tudo o que estava em minhas mãos se espatifou no chão e se despedaçou em mil fragmentos, alguns ainda vivos e brilhantes e outros obscuros e foscos. Olhei ao meu redor e não havia mais ninguém ali, apenas eu e mil reflexos de mim mesma, partidos pelo chão. Agachada, tentei recuperar cada pedaço, mas eles eram afiados, cada pedaço que eu catava, era um corte diferente. Cortes profundos e dolorosos, ardiam como se estivessem queimando minha pele. E o sangue escorria lentamente de meu corpo, acompanhado pelo salgado das minhas lágrimas. Nada parava o sangramento, nada parava a chuva que saía de meus olhos, os cacos nunca tinham fim. E eu pensava em como juntar aquilo tudo e quando juntasse, o que fazer com tais peças? Após muita paciência e dor, juntei tudo e vi que tinha em minhas mãos cada palavra dita, cada promessa. Apesar das rachaduras, elas ainda brilhavam um pouco, ainda restava nelas um tempero especial: o amor que aqui existia. Examinando cada peça, encontrei o que resultou cada pedaço fosco e obscuro, uma coisa estranha, toda quebrada, parecia ter sido remendada várias vezes, completamente oca, não tinha mais nada ali dentro. A estranha peça se mexia lentamente, como o choro soluçado de uma criança e o desespero veio em minhas mãos. Vi que no meio dessa coisa estranha havia uma peça transparente que eu colei errado, era uma promessa. Com o intuito de consertar o meu erro, tirei a pedaço errado do lugar sem muita dificuldade e todo o resto desmoronou. Aquela pecinha minúscula, transparente era toda a base, era o que mantinha meu coração batendo e sem ela, estava tudo destruído. Examinei o pedaço estranho e nele havia escrito: nunca desistir. Esse foi o corte mais profundo que sofri.
Nem sei quanto tempo fiquei lá. Até hoje, não sei nem dizer se esse tempo todo passei dormindo ou sonhando acordada. Tudo acontecia lentamente e eu ainda não sabia dizer se era real. Meus movimentos milimetricamente projetados, robóticos, repetitivos me levavam a lugar nenhum. Meus pensamentos estavam lá, mas nada parecia tomar forma ou muito menos fazer sentido, aqui fora. Aquela sensação de que eu estava me vendo dormir, fora do meu corpo, me acompanhava 24 horas por dia. Eu não sentia nada, não fazia nada. Eu só estava ali, inerte, habitando um corpo vivo sem vida.
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